Rodrigo Pinto
Da BBC Brasil em Londres
Instalação transporta ouvinte à ambiência amazônica |
O artista italiano Gabo Guzzo recriou em Londres a
ambiência sonora do lugar considerado, segundo ele, o único no mundo
livre de interferências de sons gerados pelo homem.
A instalação "The Quietest Place in the World",
na Bearspace Gallery, usa um longo trecho de som gravado pelo ecologista
sonoro americano Gordon Hempton, que há mais de três décadas estuda a
ambiência sonora do planeta.
"Este trabalho é uma evidência da extinção
destes lugares, da voz original do planeta", alerta Guzzo, em entrevista
à BBC Brasil.
Segundo Hempton, a Amazônia brasileira, mais especificamente um lugar
chamado Camp 41, é provavelmente o único lugar do mundo onde ainda há
silêncio natural por muitas horas.
"Nos EUA, há 12 lugares em que você pode ter até
15 minutos sem interferência. Na Europa, isso praticamente
desapareceu", diz o pesquisador, que afirma ter dados três voltas
inteiras no planeta nos últimos 30 anos para recolher amostras de som.
Falando de um celular no Olympic National Park, imensa reserva natural no estado de Washington, Hempton acrescenta:
"Se considerarmos um limite de 15 minutos sem interferência de sons
gerados pelo homem, há de 200 a 300 lugares em todo o planeta, a maior
parte em países periféricos que não podem pagar por combustíveis
fósseis. Se considerarmos um limite de 3 horas, há 15 lugares (desse
tipo) que eu saiba em todo o planeta. E se tentarmos achar um lugar que é
naturalmente silencioso por seis horas, só há um, no coração da
Amazônia brasileira, onde gravei este som usado por Guzzo."
''Menos de um dólar'
Hempton afirma que, na maior parte das vezes em que imaginamos ter
vivenciado o som original do planeta - livre de interferência humana -,
estamos, na verdade, enganados.
"É mais provável que você já tenha sofrido uma
perda de audição. A maioria dos americanos aos 30 anos de idade tem
perdas auditivas. Nos Estados Unidos, perda de audição é a principal
razão de aposentadoria por invalidez."
Segundo o pesquisador, aviões são a causa número
um de destruição da quietude natural do planeta. "Custa menos de um
dólar e um minuto para aviões desviarem de parques nacionais e nos
ajudarem a manter espaços de silêncio natural".
Hempton afirma que nem mesmo áreas como o Polo
Norte (atingido, por exemplo, pelo som dos aviões cruzando de Londres
para Chicago) e o Polo Sul (com geradores a diesel funcionando 24 horas
por dia para alimentar as estações de exploração do local) estão livres.
"Sabemos que até 2025 o número de voos nos
Estados Unidos vai dobrar. Se não mudarmos isso agora, não conseguiremos
nós mesmos experimentar esta quietude, e os animais também serão
fortemente atingidos".
"Assim como ocorre em humanos quando conversam
em uma rua movimentada, os animais também precisam estar próximos.
Quando há poluição sonora, pássaros precisam mudar hábitos, reduzir
distâncias, cantar em frequências mais altas", alerta.
Na instalação de Gabo Guzzo, os visitantes são
convidados a usar fones de ouvido que cancelam o som externo e
reproduzem o som amazônico. "E as pessoas deitam em um colchão redondo,
representando o planeta Terra, entrando em contato com o chão, uma
experiência sensorial única", define o artista.
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