Pallab
Ghosh
Repórter
de ciência da BBC News, no Cern, na Suíça
LHC está passando por atualização, para dobrar seu poder energético |
Engenheiros
deram início a um processo de aprimoramento do Grande Colisor de Hádrons (LHC,
na sigla em inglês) para dobrar a energia do que já é o maior acelerador de
partículas do mundo. A
BBC foi o primeiro meio de comunicação a ter acesso ao interior do LHC - no
Cern, o laboratório europeu de pesquisas nucleares, na fronteira franco-suíça -
para acompanhar esse trabalho.
Cientistas
acreditam que o "upgrade" lhes permitirá descobrir novas partículas
e, assim, a formular uma teoria mais completa sobre o funcionamento do
universo. A
cientista Pippa Wells, que trabalha no Cern, disse à BBC que há muito a ser
descoberto com o LHC. "Os dois últimos anos foram os mais animadores da
minha vida como física de partículas", declarou.
"Houve
uma descoberta (pistas da chamada 'partícula de Deus'), e os cientistas querem
mais com os altos níveis de energia que teremos. Podemos descobrir um novo
reino de partículas físicas." Um
elevador leva a equipe da BBC ao subsolo, cem metros abaixo da superfície, e a
uma grande e pesada porta verde, que se abre para uma das maiores e mais
complexa máquinas já construídas no mundo.
Lá,
engenheiros começam a substituir alguns conectores de energia elétrica - de um
total de 10 mil que serão trocados. Oitocentas pessoas estão envolvidas no
projeto de aprimoramento, que deve custar o equivalente a R$ 213 milhões.
A
tarefa também inclui testar e substituir alguns dos principais dipolos
(sistemas de duas cargas elétricas opostas) e quadripolos (circuito elétrico
com quatro terminais de acesso) que são usados para curvar os caminhos
percorridos pelas partículas testadas e mantê-las agrupadas.
Ciência
de ponta
O
LHC aplica tanto ciência quanto engenharia de ponta na difícil tarefa de criar
condições para replicar os primórdios do Universo. "Ninguém
jamais fez esse tipo de tecnologia antes", declarou Stephanie Hills, uma
das funcionárias do local, respondendo a críticas de que a atualização do LHC
custará muito caro.
"Tudo,
das soldas mais básicas aos mais complexos diagnósticos dos feixes (de luz),
está ampliando as fronteiras da tecnologia, e às vezes essas coisas não dão
certo simplesmente porque não sabemos como elas funcionarão." Houve
um dano ao LHC poucos dias depois que ele foi ligado, em setembro de 2008. As
conexões entre os ímãs supercondutores do sistema simplesmente não aguentaram a
corrente que passou por eles.
Os
reparos levaram um ano e custaram o equivalente a R$ 73 milhões em dinheiro de
contribuintes, para que o LHC pudesse operar pela metade. Isso já bastou para
que fossem descobertos indícios do tão procurado Bóson de Higgs, a
"partícula de Deus", matéria-prima básica da criação do Universo, uma
partícula subatômica que permitiu que as partículas elementares obtivessem
massa. No
início deste ano, o Cern foi fechado para os consertos de longo prazo.
Nova etapa
Objetivo
do projeto é encontrar novas partículas,
indo
além do chamado modelo padrão
|
Após
as melhorias, os feixes de luz vão colidir entre si com o dobro da energia. Isso
permitirá que os pesquisadores se aproximem de seu objetivo final: encontrar
provas da "nova física", que eles creem que levará a uma nova e mais
completa teoria sobre a física subatômica.
A
descoberta do Bóson de Higgs, no ano passado, fechou um capítulo da física do
século 20 - do desenvolvimento da teoria do Modelo Padrão. A
teoria diz que a maioria das forças da natureza, os objetos ao nosso redor e a
nossa própria existência decorrem da interação do Bóson de Higgs com outras 16
partículas. O modelo explica com sucesso a forma como a eletricidade, o
magnetismo e a luz operam.
Desde
então, todas as partículas previstas pelo Modelo Padrão foram descobertas -
incluindo o Higgs. O
problema é que os cientistas sabem que essa teoria é limitada. Ela explica
muito bem o mundo ao nosso redor, mas não é capaz de explicar a forma como a
maior parte do Universo opera.
Físicos
esperam agora que, quando o LHC voltar a operar em força total, poderá
encontrar provas das chamadas partículas supersimétricas. Estas são parecidas
com as partículas do Modelo Padrão, porém mais maciças. Um
tipo de supersimetria prevê que pode haver cinco Bóson de Higgs, mas
ligeiramente diferentes.
A
primeira tarefa do LHC, quando voltar a promover colisões, em 2015 será testar
o Higgs já descoberto, para ver se ele tem alguma das propriedades previstas
pela supersimetria, disse Pippa Wells.
"O
LHC não foi desenhado apenas para encontrar o Higgs", declarou Wells.
"Esperamos encontrar algo totalmente novo, que mude nosso entendimento
sobre o Universo. Estamos no limiar de encontrar novas partículas."
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