Personagens literários sobrevivem à morte de seus criadores


Escritor Douglas Adams morreu em 2001, mas sua série "O Mochileiro das Galáxias" ganha mais um capítulo; veja outros exemplos


O autor Eoin Colfer posa com fãs da série
"O Mochileiro das Galáxias" no lançamento de
"E Tem Outra Coisa..."
Publicado originalmente em 1979, "O Guia do Mochileiro das Galáxias", do autor britânico Douglas Adams, tornou-se um cult ao desenrolar uma história de ficção científica sem poupar doses de humor.  Cinco livros da série foram publicados até 1991.

Adams morreu aos 49 anos, em 2001 (vítima de um infarto). A sua morte não significou o fim da saga. "E Tem Outra Coisa...", o sexto volume de "O Mochileiro das Galáxias", acaba de ser lançado no Brasil pelas editoras Arqueiro e Galera.
O irlandês Eoin Colfer ganhou a permissão dos herdeiros de Adams para escrever "E Tem Outra Coisa..." e, assim, dar continuidade às aventuras de Arthur Dent pelo universo.
Inicialmente, a ideia de Colfer foi tratada com ceticismo. Mas a tarefa deu certo, e o livro recebeu críticas entusiasmadas de críticos de jornais como os britânicos "Guardian" e "Times".
Dar continuidade à obra de um autor morto pode ser considerado uma heresia literária, mas não é algo tão incomum.
Com o sucesso da trilogia "O Senhor dos Anéis" nos cinemas, o interesse pelos livros do autor de fantasia JRR Tolkien cresceu. Porém, nem todas as obras publicadas foram escritas exclusivamente por ele.
Seu terceiro filho, o editor Christopher Tolkien, foi o responsável por concluir alguns trabalhos inacabados do pai, como a coletânea mitológica "O Silmarillion", lançada em 1977, e mais recentemente "Os Filhos de Húrin", de 2007. Neste último, o trabalho de Christopher foi baseado em um argumento criado por Tolkien em 1914.
Não se sabe que fim levará a
quarta parte da série "Millenium",
de Stieg Larsson, morto em 2004

Outro escritor que pode ter a obra continuada após sua morte é o sueco Stieg Larsson, autor da série "Millennium". O sucesso dos livros, em especial "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", que ganha em 2012 sua segunda versão para o cinema, serviram de estímulo para que a mulher de Larsson, Eva Gabrielsson, declarasse querer publicar uma quarta parte.

De acordo com Eva, Larsson deixou 200 páginas escritas dessa quarta parte antes de morrer, em 2004. Porém, ela e alguns familiares do autor, que ainda não se entenderam sobre os direitos legais de suas obras, não sabem se o trabalho será publicado ou finalizado.

A viúva do escritor português José Saramago, Pilar del Río, anunciou que em 2012 o romance inacabado "Alabardas, alabardas! Espingardas, espingardas!", deixado pelo Nobel, será publicado da maneira como está.

Continuidade nas histórias em quadrinhos

Em agosto deste ano, os responsáveis pelo espólio do cartunista Charles Schulz, criador dos Peanuts, anunciaram que vão publicar histórias inéditas com os personagens. A nova revista, com lançamento marcado para este mês, será a primeira sem a participação do autor, morto em 2000.

O personagem Asterix é outro que também sobrevive à morte de seu criador - no caso o roteirista francês René Goscinny, morto em 1977. O desenhista Albert Uderzo seguiu com as histórias do gaulês: já são dez álbuns lançados sem a assinatura de Goscinny.

Recentemente Uderzo anunciou que já encontrou um sucessor para manter a produção de histórias de Asterix. A mesma estratégia foi revelada pelo cartunista Mauricio de Sousa em entrevista ao iG, onde revelou estar preparando sua empresa para seguir em frente mesmo após sua aposentadoria.

Clássicos revisitados

Consideradas obras definitivas, os clássicos "O Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger, e "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, ganharam sequências não-autorizadas por seus autores.
J. D. Salinger: autor ficou furioso
com o lançamento da continuação de
"O Apanhador no Campo de Centeio"


Em "60 Anos Depois: Do Outro Lado do Campo de Centeio", o escritor sueco Fredrik Colting coloca o personagem principal do original, o rebelde Holden Caulfield, de volta à cidade de Nova York, mas agora fugido do asilo.

Assim que foi publicado nos Estados Unidos, em 2009, o então recluso J.D. Salinger entrou com um processo para proibir sua venda - e venceu. Apesar de banida em território norte-americano, a sequência permanece em livrarias de países como Inglaterra e Brasil.

No caso da continuação da obra de Saint-Exupéry - lançada em 1943 e tida como a publicação francesa mais vendida no mundo -, a situação foi mais branda. Como o autor do original havia morrido 56 anos atrás, coube à sua família entrar em contato com o poeta e empresário argentino A.G. Roemmers.

De acordo com o autor em entrevista ao iG, os herdeiros do escritor francês prestaram apoio a "O Retorno do Jovem Príncipe", lançado originalmente em 2000. Nele, o personagem, agora um adolescente, volta à Terra para discutir questões como a dificuldade em envelhecer.

iG São Paulo




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